Análise de Resiliência Climática em infraestruturas viárias
- Integração de cenários climáticos do CMIP6
- |
- Identificação de 125 pontos críticos de instabilidade
Área de atuação
Projetos
Especialidade
Transportes
Abrangência
Rio Grande do Sul
Período
2024-2026
Escopo
Contratação de Serviços de Elaboração de projetos e estudos, sob demanda.
A TPF Engenharia desenvolveu um estudo aplicado à duplicação da rodovia BR-386/RS, com foco na análise de resiliência climática em dois trechos críticos: o Segmento D (km 269+200 ao km 324+100), marcado por relevos de serra e múltiplas bacias afluentes, e a Marginal Estrela (km 351+300 ao km 362+600), localizada em área de planície sob influência direta do Rio Taquari. O trabalho buscou integrar adaptação e mitigação como princípios norteadores, considerando tanto o desempenho hidráulico e geotécnico quanto a pegada de carbono das soluções propostas.
O estudo de Análise de Resiliência Climática da BR-386/RS tinha como objeto trechos localizados no Vale do Taquari, uma das regiões mais afetadas pelas cheias extremas de 2024. O evento recente evidenciou a urgência de incorporar projeções climáticas às etapas de concepção, dimensionamento e manutenção da infraestrutura rodoviária, confirmando a pertinência do escopo desenvolvido no projeto.
A análise concentrou-se em dois segmentos críticos: o Segmento D (km 269+200 ao km 324+100), marcado por relevo acidentado e bacias de cabeceira sujeitas a movimentos de massa, e a Marginal Estrela (km 351+300 ao km 362+600), em área de planície sob influência direta do Rio Taquari e sujeita à inundação fluvial e pluvial. A abordagem metodológica integrou modelagem climática, hidrológica, geotécnica e estrutural, considerando as interdependências entre drenagem, estabilidade de taludes e desempenho das Obras de Arte Especiais (OAEs).
O estudo partiu da incorporação de cenários climáticos do CMIP6, que apontam para um aumento significativo da intensidade das precipitações extremas na região. A atualização das curvas de Intensidade-Duração-Frequência (IDF) demonstrou a necessidade de acréscimos de até 20% nas vazões máximas de projeto, o que levou ao redimensionamento de 36% dos dispositivos de drenagem no Segmento D e de 16,7% na Marginal Estrela.
Foram utilizados cenários climáticos do CMIP6 (SSP2-4.5 e SSP5-8.5), em conformidade com metodologia científica que norteia os relatórios do IPCC. ajustados por correção de viés via quantile mapping e interpolação espacial IDW, permitindo a compatibilização das projeções de eventos extremos dos modelos globais e ajustes das distribuições estatísticas de extremos.
O tratamento de incertezas das projeções dos diferentes modelos foi conduzido por meio de análise de quantis. No componente estrutural, foi realizada a verificação das Obras de Arte Especiais (pontes, galerias e bueiros múltiplos) quanto à segurança frente a esforços adicionais decorrentes do aumento de vazão.
No âmbito geotécnico, o levantamento de vulnerabilidades mostrou um contraste marcante entre os trechos: enquanto a Marginal Estrela apresentou apenas 4 pontos críticos associados a aterros próximos a obras de arte especiais, o Segmento D registrou 121 locais suscetíveis a deslizamentos, exigindo soluções direcionadas como estabilização de taludes e reforços estruturais.
Outro diferencial do trabalho foi a análise das emissões de gases de efeito estufa (GEE) associadas às alternativas construtivas, realizada com base em Avaliação do Ciclo de Vida (ACV). A investigação revelou que cerca de 60% das emissões e dos custos totais do projeto se concentraram em um número reduzido de intervenções, o que possibilitou maior assertividade na priorização técnica. A análise multicritério mostrou, por exemplo, que a adoção de bueiros metálicos no Segmento D representava a solução mais econômica, com apenas um acréscimo marginal nas emissões de carbono, enquanto na Marginal Estrela foi necessário equilibrar trade-offs entre custo e impacto ambiental.
O uso do Building Information Modeling (BIM) foi fundamental para consolidar os dados complexos em modelos digitais, apoiar a análise multicritério e facilitar a tomada de decisão em cenários de incerteza. Com essa abordagem, a TPF forneceu subsídios técnicos para que a BR-386/RS seja adaptada às condições climáticas futuras, conciliando eficiência econômica, sustentabilidade e segurança operacional.
Principais atividades
- Integração de cenários climáticos CMIP6 (SSP1-2.6, SSP2-4.5, SSP5-8.5) às análises hidrológicas e geotécnicas.
- Correção de viés e regionalização de projeções climáticas por método estatístico.
- Recalibração de curvas IDF
- Tratamento de incertezas entre as projeções para determinação dos cenários de projeto
- Simulação Hidráulica das Obras de Arte Correntes (Bueiros e Galerias) e Especiais (Pontes e Travessia)
- Redimensionamento dos dispositivos de drenagem
- Diagnóstico geotécnico
- Quantificação das emissões de GEE e custos
- Análise multicritério de alternativas de drenagem
- Modelagem BIM como suporte metodológico
- Elaboração de diretrizes de adaptação e mitigação em conformidade com o IPCC-AR6 e ISO 14091.
A TPF Engenharia é uma empresa pioneira na incorporação de critérios de resiliência climática no planejamento e no projeto de infraestrutura, unindo ciência climática e engenharia aplicada. A análise desenvolvida para a BR-386/RS, no Vale do Taquari, consolidou um marco técnico ao traduzir projeções e cenários do CMIP6 em parâmetros de projeto — conectando o conhecimento de ponta em modelagem climática a decisões práticas de engenharia. No contexto de um território que, em 2024, enfrentou a maior cheia da história do Rio Grande do Sul, o estudo demonstrou como abordagens baseadas em evidências e simulações probabilísticas podem antecipar riscos e orientar investimentos mais seguros e sustentáveis. A partir do tratamento das projeções climáticas, a análise de incerteza das projeções, a recalibração das curvas IDF, a verificação das Obras de Arte Especiais (OAEs) e modelagem integrada de drenagem, geotecnia e emissões de carbono, foi possível identificar soluções com maior robustez estrutural e melhor desempenho ambiental, mesmo em cenários extremos de precipitação e instabilidade de encostas. — Victor Porto